domingo, 19 de agosto de 2012

Uma velha glória da marinha mercante portuguesa


"Tudo neste Funchal me deslumbra", escreveu Vitorino NemésioPara perceber a importância do velho paquete Funchal é preciso recuar cinco décadas, ao tempo em que a frota portuguesa de navios de passageiros contava com nada menos de 25 embarcações. "Alguns deles eram o orgulho nacional, a par de Eusébio e de Amália Rodrigues", descreve o historiador naval Luís Miguel Correia numa resenha sobre a vida do paquete, escrita por ocasião dos seu cinquenta anos.

A maioria destes navios serviam então o movimento de tropas entre Lisboa, África e o Extremo Oriente, embora também já houvesse uma tradição de cruzeiros turísticos. Encomendado a um estaleiro dinamarquês, que cobrou por ele 202 mil contos (cerca de um milhão de euros) em 1961, o Funchal tinha por principal função, no início, assegurar o transporte de passageiros, correio e carga entre o continente e as ilhas da Madeira e dos Açores.

Quem desenvolveu o projeto preliminar foi o armador Vasco Bensaúde em parceria com o arquitecto naval Rogério de Oliveira, autor de vários outras grandes embarcações. Os desenhos foram gizados em reuniões no palacete do armador, em Benfica, que se prolongavam madrugada dentro, contou o projetista - que ainda está vivo - ao historiador. Habituado a viajar nos melhores paquetes do mundo, Vasco Bensaúde ajudou a conceber uma embarcação que tinha tanto de elegante como de moderna.

"Tudo neste Funchalup to date me deslumbra: a velocidade record, a linha dos decks elegantíssimos (...), a casa de navegação apetrechada dos mais finos nervos da náutica, e enfim a ponte onde o impecável comandante, com a sua tripulação exemplar, vela por todos quantos aqui vão", escreveu Vitorino Nemésio, no livro de honra do navio em 1963, dois anos depois de o paquete começar a navegar. Mais tarde substituídas por motores a diesel, as turbinas a vapor permitiam-lhe chegar de Lisboa ao Funchal em apenas 26 horas, prossegue Luís Miguel Correia na mesma resenha.

Foi precisamente no ano da transformação, em 1972, que o Presidente da República, Américo Tomás, fez uma visita oficial ao Brasil no Funchal. A bordo seguiram as ossadas D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, com escolta militar. O navio foi propositadamente equipado com uma piscina e o seu casco pintado de azul escuro, adaptando as mesmas corres do iate da rainha de Inglaterra.

O começo da massificação das viagens aéreas fazia então escassear os passageiros marítimos, pelo que o Funchal foi remodelado para se tornar um navio de cruzeiros. Com uma lotação que não chegava aos 500 passageiros, passou para as mãos da Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, que o vendeu em leilão a George Potamianos em meados dos anos 80. Há um ano o armador grego calculava já ter gasto qualquer coisa como 40 milhões nas suas sucessivas remodelações.

"É o último sobrevivente da nossa antiga frota de navios de passageiros", lembra Luís Miguel Correia.

Créditos de texto: Publico.pt
Imagem: Arquivo de coleção

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